domingo, 1 de abril de 2012

2 DE ABRIL : DIA MUNDIAL DE CONSCIENTIZAÇÃO SOBRE O AUTISMO

Saúde mental e autismo em pauta na Capacitação Preaut em Maceió/AL 

 

Enfermidade multifatorial e de etiologia ainda não esclarecida, o autismo é uma disfunção no desenvolvimento global que atinge a capacidade de comunicação, socialização e de comportamento do indivíduo. Durante  evento realizado em Maceió/AL, no ano passado,foram discutidas as formas de identificação precoce dos sinais para uma intervenção precoce, diminuindo as sequelas e melhorando a qualidade de vida das crianças e suas famílias e, consequentemente, o valor gasto pela saúde pública e a sociedade.

Médica Terezinha Rocha de Almeida, Diretora do Centro
 de Atenção Psicosocial - CPSI Dr. Luiz da Rocha Cerqueira

Segundo a neurologista- infantil do HU da Universidade Federal de Alagoas, Terezinha Rocha de Almeida, uma das organizadoras do evento, a Capacitação Preaut teve a finalidade de capacitar os profissionais das equipes de saúde no sentido de atualizarem. “Com a intervenção precoce, os portadores do autismo poderão levar uma vida normal, dependendo da gravidade de cada caso, daí a importância de todos os que fazem parte da saúde no Estado de Alagoas haverem participado do evento, principalmente os profissionais que trabalham com bebês ou crianças na faixa etária de 0 a 2 anos de vida, ou seja, pediatras, psiquiatras, neurologistas, psicólogos, psicanalistas, psicopedagogos, enfermeiros, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos, fisioterapeutas,  assistentes sociais e outros que tiveram interesse pelo tema, pois, puderam, identificando precocemente os sinais de risco dos portadores do espectro, contribuir fundamentalmente com o futuro dessas crianças para uma maior socialização e menor  sofrimento psíquico”, enfatizou. 
O evento contou com a participação de Claudia Mascarenhas, doutora em psicologia com formação em Paris, e presidente do Instituto Viva-Infância da Bahia, além de Érica Parlato, fonoaudióloga, professora da Universidade de Minas Gerais, especialista em línguística, também com formação em Paris, e presidente do Instituto Langage localizado em São Paulo.

CAPSI DR. LUIZ  DA ROCHA CERQUEIRA - O Centro de Atenção Psicosocial vem desenvolvendo  trabalho relevante no que diz respeito  a oferecimento de uma melhor qualidade de vida para os autistas e seus familiares. Conquista de autonomia, maior capacidade de desenvolvimento de suas atividades diárias, elasticidade  da capacidade cognitiva, melhoria de suas relações interpessoais e, ainda, melhor qualidade na assistência à saúde  dos portadores do espectro em tela são benefícios que o CAPSI oferece aos seus usuários através de oficinas terapêuticas, oficinas de artes, de leitura de histórias infantis e contos de fadas, passeios externos mensais , além de reuniões com os familiares  e assistência médica sistemática.

A Diretora Médica do CAPSI Dr. Luiz da Rocha Cerqueira, Terezinha Almeida, informa que "as ações de detecção precoce não estão sendo priorizadas em nosso serviço pela natureza do Centro, a qual é assistir aos casos mais graves e ao transtorno já instalado".


PREAUT BRASIL
Inicialmente no Brasil foi o Instituto da Família, responsável pela capacitação de pediatras, que deu os primeiros passos para a instauração da pesquisa. Promoveu palestras e cursos para introduzir a pesquisa no nosso meio, além da primeira publicação brasileira dos cadernos Preaut.
Em outubro de 2007 foi promovida a primeira reunião para lançamento oficial da Pesquisa Preaut na cidade de Salvador pelo Instituto da familia e pelo Instituto Viva Infancia, com o apoio da SOBAPE, Sociedade de Pediatria da Bahia. Nesse momento mais 13 cidades somaram os centros da pesquisas para esse projeto conjunto. O Instituto Langage em 2009, a partir da reunião de firmação dos primeiros acordos, sedia a primeira capacitação para os coordenadores com Graciela Crespin e em maio de 2010 o projeto estava pronto.


PREAUT FRANÇA

Início:1999 na França  dentro do Programme Recherche Evaluation Autisme, da Association Pre-Aut.

( Release)

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

AO MEU FILHO PABLO



Cabelos negros,
olhos escuros, rasgados.
Sorriso de mansidão.

Menino feito de amor,
serás na vida um condor
de altiva compleição.

Fostes forjado em bigorna
de carinho e coragem,
por isto não és aragem:
és pedra, és forte, és leão.

SAUDADE


Eu ouvi todas as histórias de trancoso do mundo.
Eu li todos os contos de fada da terra.
Eu escutei todas as músicas  de ninar.
Eu dancei todas as  cantigas de roda da vida e não aprendi.

Eu estudei todos os filósofos da história.
Eu li todos os poemas, assisti a todos os filmes.
Eu li todos os romances, assisti todas as tragédias e não aprendi.
Eu caminhei por veredas tortuosas, convivi com a miséria e a dor e não aprendi.

Eu devo confessar que fui derrotada na arte de viver.
Eu não assimilei sabedoria.
Eu devo confessar que nada aprendi.
Eu não aprendi a conviver com e suportar a saudade.


O NINHO VAZIO


Eu gaivota cansada já não posso voltar ao ninho.
Não há filhotes para guardar
Eu velha coruja já não sou atalaia,
perdi a profundidade do olhar, já não tenho filhotes para ser guardiã.
Eu  juriti que geme sozinha , mirando o ninho vazio dos filhotes que já aprenderam a voar.

Eu loba solitária campeio pelos ermos infinitos e já não tenho toca para vigiar.
Eu garrincha mofina já não cato gravetos pra meu ninho arrumar, pois já não há filhotes pra abrigar. 
Vôo em círculos, mergulho em profundos abismos, voejo em caatingas desertas.

E o ninho oco a catucar minh'alma
O ninho vazio a sangrar minhas  veias
E uma angustia medonha a esmagar meu peito.


quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

ONDE ESTÁ O NOSSO IRMÃO ?*

Autora : Terezinha Rocha de Almeida


Começamos a procurá-lo no silêncio,
na escuridão que eles fizeram
para que não achássemos se corpo.

Hoje estamos tão próximos de ti
que sentimos o cheiro do teu sangue,
do sangue que eles derramara
a fim de saciar-lhes a sede , matar-lhe a fome.

E o teu corpo nos espera para que todos, juntos,
preparemos o teu leito na terra,
a terra que é nossa, acariciada pelas mãos de João,
regada com o choro de Maria,
fecundada com o nosso sangue
que dará para o teu florescer, para o teu ressurgir
e para a tua nova vida.

Nossos irmãos do campo ainda dormem e não sabem de ti,
visam a foice para cortar a cana
e adoçar a vida dos “senhores”.
Os “senhores “ lhes escondem tudo...

Ma dia virá em que as foices serão erguidas
e usadas contra os homens hienas
que rondam nas trevas à procura de inocentes.

Os outros, lá da fábrica,
estão tão preocupados com o pão de seus filhos
que também não souberam de ti, mas eles te amam.
Não se sabe o que farão quando derem pela tua falta.

E avançaremos na busca gritando os teus nomes:

Jaime de Amorim!
Gastone Beltrão!
Odijas Carvalho!
Ana kueinski!

Até que a fera traiçoeira e sanguinária que deita sobre ti
retire o pelo manchado que te sufoca a fronte
para que, te reconhecendo, cheguemos a ti.

Ela fugirá como fogem as trevas do dia,
Temerá nossa vingança, pois, sabe que ela virá,
dia menos dia ela cairá sobre sua cabeça,
implacável como a morte,
que é o preço de quem nos rouba a vida.

A terra será novamente dos homens
que no seu peito mamarão
como seus filhos que são,

E eles acariciaram sua pele com as enxadas,
como se ama uma rapariga.
E haverá trabalho e justiça.

E a aurora surpreenderá os homens de mãos dadaas,
nos campos e nas ruas,
e não haverá lugar para os verdugos do povo,
os homens hienas e os senhores chacais.


________________

*        Este poema foi publicado, na época da Ditadura Militar, pelo Diretório Centra dos Estudantes  / DCE  em seu jornal BOCA DO ESTUDANTE com a participação do DAS / CAS da Universidade Federal de Alagoas / UFAL, em junho de 1979

NO SEXTO ANDAR

Autora : Terezinha Rocha de Almeida


Na verdade não sei porque estou aqui. Por que migrei? Também não sei! Encontro-me numa sala vazia, repleta de cadeiras vazias e copos vazios dispostos nos birôs.

Já não sei o que quero. A vida parece um emaranhado de problemas, de nós, de armadilhas que eu não consigo resolver.

Quando era menina, e adentrava no sítio de minha avó, embrenhava-me em meio a samambaias e emaranhados de cipoais impossíveis de desembaraçar. Hoje, passados tantos anos, a mesma sensação: imbricações, embaraços, ciladas, arapucas, labirintos, coisas do homem e da existência que a tornam difícil e dura.

Complicações. A matemática do colégio parece licor. Os primeiros amores, platônicos e irrealizáveis, são hoje como melodias suaves e adocicadas. As dúvidas da adolescência foram fardos delicados que já não pesam, nem lembram torturas.

Olhar para trás e perceber que os desafios do passado lembram acontecimentos serenos no percorrer de uma alameda cercada de árvores dadivosas, pássaros canoros e flores perfumadas.

Agora tudo é cinzento, pesado, poluído. Intricamo-nos no cipoal da vida e já não conhecemos o começo, nem o fim.

O que faço aqui, nessa sala vazia, cheia de fantasias, de funcionários públicos vencidos? Nada inspira esperança, nem vida, nem sonhos, tampouco.

E quando os sonhos se perdem que esperamos do mundo?

Meus antepassados migraram todos, perderam-se no emaranhado verde do canavial, na fumaça cinzenta dos bueiros de engenhos, das fábricas. Suas histórias ficaram misturadas às tragédias cotidianas da lavoura, às contendas dos sindicatos, às estatísticas fúnebres dos hospitais, ao obituário dos cartórios.

Apenas números. Apenas lembranças de violência, dor, doenças, heroísmos anônimos que na maioria das vezes nem chegam ao cordel.

E a gente a continuar puxando a corda de um buraco sem fundo que não nos reflete o rosto, mas sim, infinitas imagens superpostas, imprecisas, desfiguradas.

Em que ponto eu fiquei nessa multidão de seres e figuras desmanteladas, perdidas, desagregadas?

Na cor que esmaece, nos olhos que se mesclam, nos cabelos que se encrespam, no humor que se eleva ou deprime; na bondade que se esmera ou se esvai, nos perdemos na genética de nossos ancestrais.

E a história continua em ziguezague, subindo e descendo ladeiras. Alguns no topo, outros nos recôncavos e eu perdida numa estrada poeirenta sem saber a topografia do futuro. Se escarpas ou depressões, se vendavais ou calmaria. Sou um pequeno ser perdido na enxurrada da existência tentando escrever sua própria história.



FLORA

Autora : Terezinha Rocha de Almeida


Meio - dia. O verão explode em calor e luz na cidade agitada. No betume negro das ruas surgem ondas transparentes como se nuvens quentes rebentassem das entranhas da terra. As ruas estão cheias, apinhadas de gente. Nada mais natural, é dezembro, estamos próximos do natal.

O comércio fervilha de pessoas vindas de lugares os mais distantes enquanto uma criatura arrasta-se banzeira entre a multidão que desliza sob o sol. Cansada e combalida, a baba lhe escorre pelo canto da boca. A língua está de fora, a respiração ofegante e os peitos lhe pesam como chumbo. Parece que carrega o mundo no ventre. Encontra-se disforme, arredondada, inflada feito bola de soprar, porém nunca leve. Pesada, muito pesada, quase dobrada junto ao solo.

Há fêmeas que ficam bonitas na gestação, ganham graça, vigor e formas harmoniosas. Ela não! Nunca pensou que ficaria tão feia e repugnante.

A verdade é que nos últimos meses ninguém a procurava. Não sentira falta dos afagos nem das carícias. Que carícias? Isso não existia. O que ocorria mesmo era a disputa braba por seu corpo. Não porque fosse bela. A facilidade de tê-la e a necessidade de seus pretendentes é que os impulsionavam até ela.

Matilha sedenta por sexo, a libido fora de controle, atiravam-se uns contra os outros, desesperados, e contra ela em busca da saciedade de uma fome implacável. Felizmente estava livre daqueles transtornos nos últimos meses. Parecia que não existia para ninguém. Todos a ignoravam. Apenas os rapazes da lanchonete da esquina do Cais José Mariano e daquele hotel cor-de-rosa da rua da Aurora lhe acalmavam a fome e a sede nas horas de necessidade. Precisava chegar até eles naquele momento de desatino. Quem sabe lhe ajudariam? O chão estava muito quente, o mormaço lhe tirava o fôlego e a atmosfera abafada parecia querer sufocar todas as criaturas.

Penosamente, chegou próximo a um restaurante. Uma árvore frondosa e aconchegante a convidava para um repouso. Avidamente se aproximou da sombra, porém recebeu um pontapé inesperado. O homem gordo de cara sebenta e suada lhe acertou em cheio o flanco direito. Sentiu o mundo rodar, quase perdeu o equilíbrio, uma dor aguda veio somar-se às cólicas que lhe atormentavam desde as primeiras horas do dia.

Retornou a caminhar instantaneamente. Encontrava-se meio desorientada. Perdera a noção de espaço e já não sabia para que lado mesmo ficava o hotel cor-de-rosa. A fome, o cansaço e a dor misturada lhe deixavam naquele estado de inércia. Depois, vinham a sede e o calor que não poupavam vivente algum naquela época do ano.

De repente, um filete de água é visualizado próximo ao meio-fio da rua. Por que não deitar ali, e rolar o corpo junto com a água que passava cristalina pelo asfalto negro?

 O suor embebia-lhe o corpo, descia tetas abaixo. Sim, era preciso mergulhar na água, deixar aquela frescura invadir-lhe o ser. Porém, o som estridente da buzina de um carro a empurrou para a calçada ao lado. O esforço roubou-lhe mais energia. Parou cansada por um instante em meio a multidão. Sacolas e corpos resvalavam sobre o seu, quase lhe arrastando. Levantou-se devagarzinho e continuou a caminhada.

O céu muito azul misturava-se à claridade do dia radiante. Como era belo aquele dia e quanta luz a invadir as ruas. Estas, coalhadas de gente e de trambolhos, efervesciam de sons e movimentos. Mulheres falavam alto, pessoas sorriam, carros buzinavam. Os pregões conhecidos perdiam-se no ar. Ambulantes tentavam desesperadamente vender seus produtos em meio à multidão tumultuada. Um inferno!

Crianças furtavam pequenos objetos de um desatento camelô. Pega o ladrão! Gritava um homem barbudo enquanto corria atrás do menino que deslizava como felino em direção as águas do Capibaribe.

Ágil, o garoto pulou a muralha protetora, alcançou o mangue, embreando-se no lamaçal. Atarantado, o homem ficou com as mãos na cintura observando a proeza do pequeno infrator. Vencido pela habilidade do moleque, coçou a cabeça e, resignado, voltou a seu trabalho.

O martírio de Flora continuava. Passara pela rua do Hospício, reconhecera pelas livrarias. Estava perto ou longe da lanchonete e do hotel? Para que lados ficaram seus abrigos salvadores? Já não agüentava mais capengar, perambulando pelas ruas afora, sem um prumo. Teria que parar ali mesmo, em qualquer lugar e esperar o que Deus quisesse. Haveria de se sair bem, de algum modo. Pior do que estava passando não poderia acontecer.

Já havia passado por tanta coisa ruim na vida que estava preparada para o que desse e viesse.Vida de cachorro, de sim! De cachorro vira-lata, “sem eira nem beira, nem ramo de figueira”. Vida de cachorra é ainda pior. Parou, olhou o mundo à sua volta. Os olhos mortiços e castanhos já não possuíam o brilho de antes. Estavam embaçados pelo cansaço.

A multidão passava sôfrega, ansiosa, indiferente. Necessário comprar. Entrar em todas as lojas, comparar preços, artigos. Um segundo era importante na empreitada que realizava.

Uma nódoa cor-de-rosa surge ao longe. Abriu e fechou os olhos para ver se estava enxergando bem. A mancha rosada se aproximava e tornava-se mais nítida. Comprida, esbelta, avançava para o céu como uma árvore espigada. Seria verdade? Seria acolhida por alguma boa alma, como nos velhos tempos? Há muito não aparecia por ali, talvez já tivessem lhe esquecido, não lhe reconhecessem mais.

Não se tratava apenas de uma mancha, era um volume enorme muito rosado, comprido e longo. Era um prédio, sim. Era o hotel da rua da Aurora.

Exausta, deitou-se em pleno sol sob a calçada escaldante. Vultos minúsculos se aproximaram. As camisas brancas surgiam atrás da cortina enevoada que frente aos olhos dificultava-lhe a visão.

Duas mãos imensas e disformes aproximaram uma bacia à sua boca. Enfim, água. Água fresca para aplacar-lhe a sede. Outras duas lhe acariciavam o pelo. Os dois porteiros do hotel debruçavam-se sobre seu corpo. Não, não se enganara. Homens bons ainda existiam. Reconheceram-lhe e foram-lhe em socorro. Um dos homens carregou-lhe para sombra, enquanto o outro tomava da bacia com água para deixar-lhe próxima à boca.

O corpo deitado de lado deixava ver a carreira de tetas túrgidas e ingurgitadas. A respiração ofegante era visível ao longe. Chegara na hora certa. O futuro era incerto, porém, quatro olhos lhe velavam e quatro mãos lhe sustentavam e lhe afagavam. Dois homens estavam ao seu lado e, por certo, saberiam o que fazer com ela.

A solidariedade é sábia, sabe dividir partículas indivisíveis, aumentar o volume de corpos e multiplicar insignificantes miudezas. Estava feliz. Ao seu lado a presença de dois homens era de uma grandeza incalculável.